Fundação Portuguesa de Cardiologia

Saúde do Coração

Fatores de Risco

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O que são?

As doenças cardiovasculares estão associadas a um conjunto de fatores que se designam factores de risco. Alguns não podem ser modificados, como a hereditariedade, o sexo e a idade. Outros, pelo contrário, podem ser modificados com medidas de estilo de vida e medicamentos.

Os principais fatores de risco cardiovascular, sobre os quais pode agir a prevenção, são os seguintes:

A inactividade física é um dos maiores factores de risco no desenvolvimento de doenças cardíacas. Neste contexto, Portugal faz parte dos países com menores índices de actividade física da Europa, tornando a população portuguesa muito exposta aos riscos das doenças cardiovasculares.

A prática de actividade física diminui o risco cardiovascular, para além de manter a saúde e o bem-estar geral – físico e psíquico.

Muito importante do ponto de vista da prevenção das doenças cardiovasculares é praticar uma actividade física diária e regular de, pelo menos, 30 minutos, que pode ser distribuída em 3 períodos de 10 minutos ao longo do dia. Exemplos disso são subir escadas, caminhar, nadar ou andar de bicicleta. A actividade física aconselhada implica movimento, força ou manutenção da postura corporal que se traduza num consumo de oxigénio.

Pratique Actividade Física

Pode-se praticar uma actividade física, sem se praticar desporto. Com um conjunto de medidas simples é possível aplicar, no seu dia-a-dia, exercício físico para manter o corpo a funcionar de forma saudável.

1. Introduza movimento nas suas actividades de vida diária

Procure situações com um mínimo de 10 minutos, procurando atingir um total mínimo de 30 minutos por dia:

  • Prefira escadas a elevadores.
  • Ande mais a pé (na utilização dos transportes públicos, desça uma paragem antes, deixe o automóvel mais longe).
  • Se puder, faça percursos de bicicleta.
  • Salte à corda.

 

2. Escolha uma actividade física que lhe agrade e que possa praticar

As mais prolongadas e moderadas são as ideais. Natação, corrida, ciclismo, caminhadas, dança de salão são algumas das actividades para colocar a máquina cardíaca em acção.

Pratique, pelo menos, três vezes por semana. Com companhia o exercício sabe ainda melhor – convide um familiar ou amigo para se juntar a si. Conforme a actividade pode ser aconselhável o aquecimento de cinco minutos e um arrefecimento de cinco minutos.

3. Aumente gradualmente (ao longo de meses) a intensidade do exercício.

Com a regularidade do exercício, o seu corpo vai tendo mais capacidade para o esforço e revigora-se cada vez melhor. Um coração bem condicionado consegue realizar o mesmo trabalho pulsando 36 000 vezes menos por dia que o coração de um indivíduo não treinado.

 4. A actividade física deve ser adequada à sua condição de saúde.

Muitas vezes, até ajuda na recuperação de muitas doenças, tais como diabetes, excesso de peso, hipertensão arterial, osteoporose ou asma, mas deve ser adaptada a       cada caso.

Também a idade é um factor a ter em conta. Em idades mais jovens, o exercício pode ter um carácter competitivo, já em pessoas com mais de 35 anos a actividade física deve assumir uma forma de lazer.

5. É desejável que a actividade física se inicie na infância.

No crescimento das crianças o corpo e a saúde beneficiam muito do exercício. Para além disso, ajudam à concentração, aumentam o apetite e motivam a sociabilidade. Mas, de qualquer modo, vai sempre a tempo para começar.

6. Antes de iniciar um programa de exercício deve realizar um exame médico prévio, em particular nos seguintes casos:

  • Homens com mais de 45 anos e mulheres com mais de 50 anos.
  • Ser portador de doença cardíaca suspeita ou já diagnosticada.
  • Sofrer de hipertensão.
  • Ter diabetes.
  • Existir história familiar de doença cardíaca.

 

A actividade física deve ser programada em termos de:

  • Duração
  • Frequência
  • Intensidade

A pirâmide da actividade física ajuda a compreender quais são os diversos tipos de exercício e em que quantidades são desejáveis para manter a saúde e o bem-estar.

Na base da pirâmide ilustram-se as actividades físicas menos intensas que devem ser praticadas diariamente para surtirem efeito em termos de prevenção.

À medida que se sobe na pirâmide aumenta a intensidade das actividades física, mas decresce a necessidade da frequência semanal.

Benefícios

A prática de actividade física tem como benefícios:

  • Mais energia
  • Maior resistência
  • Melhor auto-imagem
  • Controle do peso
  • Redução do risco de ataque cardíaco

 Mitos sobre o exercício físico

  • O exercício causa cansaço.
  • O exercício tira muito tempo.
  • Todos os exercícios dão benefício idêntico.
  • Com idade mais avançada, é necessário fazer menos exercício.
  • É preciso ter tendência atlética para se fazer exercício.

A intensidade do exercício

Meça o pulso após o exercício, porque a frequência do pulso é um bom guia:

  • A frequência máxima depende da idade (220 menos a idade).
  • A frequência boa está entre os 60 e os 75 % (zona alvo).
  • Acima de 75 % da frequência máxima pode ser excessivo, para quem não está treinado.
  • Abaixo de 60 % dá pouco condicionamento ao coração e pulmões.

Tensão e Hipertensão arterial

A circulação do sangue, que tem por destino chegar a todos os tecidos e células do organismo, implica que haja alguma pressão sobre as paredes das artérias. Esta pressão, que é normal e até essencial para que o sangue atinja o seu destino, é a chamada “tensão arterial”.

Existem, no entanto, uma série de factores — de ordem genética ou ambiental — que podem fazer com que esta pressão sobre as paredes das artérias aumente em excesso. Estamos, então, perante um cenário de hipertensão.

Em Portugal, existem cerca de dois milhões de hipertensos. Todavia, deste número, apenas:

  • 50% sabe que sofre desta patologia;
  • 25% está medicado;
  • 11% tem a tensão efectivamente controlada.

 

Exactamente por existir uma percentagem tão elevada de doentes cuja hipertensão não é controlada ou corrigida, é que a HTA é um dos principais factores de risco no aparecimento de doenças cardiovasculares.

Como surge a hipertensão

Imagine que as suas artérias são como mangueiras: em estado saudável, o sangue flúi com facilidade pelo seu interior, não encontrando qualquer obstáculo ao longo do trajecto que percorre até às células.

No entanto, se nestas “mangueiras” o sangue se encontra sobre pressão, o coração tem de esforçar-se mais para fazer circular o sangue. Nestes casos, o esforço pode levar a que a massa muscular do coração aumente, fazendo com que o volume do coração se torne maior — a chamada hipertrofia.

Numa primeira fase, o aumento muscular cardíaco não representa qualquer problema. Contudo, com o passar do tempo, esta hipertrofia pode levar a insuficiência cardíaca, angina de peito ou arritmia.

O que fazer?

1. Meça a pressão arterial regularmente

Uma vez que a hipertensão arterial geralmente não tem sintomas, controle os níveis da pressão arterial com regularidade.

  • No caso de adultos saudáveis, recomenda-se a medição da pressão arterial, pelo menos uma vez por ano.
  • Já a população obesa, diabética, fumadora ou com antecedentes familiares de doença cardiovascular, deve proceder a um controlo mais frequente e de acordo com as indicações médicas.

 

2. Pratique actividade física, mas evite esforços excessivos

A prática de uma actividade física regular consegue, em muitos casos, uma descida significativa dos níveis da tensão. Escolha exercícios que compreendam movimentos cíclicos (como a natação, a marcha, a corrida ou a dança) e evite esforços físicos bruscos (por exemplo, levantar pesos ou empurrar objectos pesados) que aumentam a pressão arterial durante o esforço.

3.  Coma de forma saudável e evite o sal

Deixe de utilizar sal de mesa (se ainda o faz) e substitua-o por condimentos alternativos, como ervas aromáticas ou sumo de limão. Evite também todos os alimentos naturalmente salgados ou aos quais tenha sido adicionado sal durante a sua preparação: caso dos enchidos, enlatados, comidas pré-preparadas, aperitivos ou águas minerais com gás. Evite as bebidas alcoólicas e, se tem excesso de peso, procure reduzi-lo através de uma dieta moderada.

 

O que são a “máxima” e a “mínima”?

A pressão arterial é quantificada através de dois números.

  • O primeiro número e mais elevado, diz respeito à pressão que o sangue exerce nas paredes das artérias quando o coração está a bombear sangue. É a chamada pressão arterial sistólica — habitualmente chamada “máxima”.
  • O segundo número indica-nos a pressão que o sangue exerce nas artérias, quando o coração está relaxado. É a chamada pressão arterial diastólica — habitualmente chamada “mínima”.

A pressão arterial ideal deve ser inferior a 120/80. Acima destes valores acresce o risco de doença coronária ou acidente vascular cerebral.

Classificação da pressão arterial

MáximaMínima 
Até 120Até 80Normal
120-13980-89Pré-hipertensão
140-15990-99Hipertensão arterial estádio 1
>160>100Hipertensão arterial estádio 2

 

Como medir?

  • Escolha um local tranquilo, com uma temperatura amena
  • Repouse 15 minutos antes da mediação
  • Evite substâncias estimulantes, como café, álcool ou tabaco, até 30 minutos antes
  • Evite roupas apertadas
  • Apoie o braço, onde será feita a medição, à altura do coração
  • A medição no braço é mas fiável do que no pulso
  • Faça 2 ou 3 medições e calcule a média
  • Anote o dia, hora e valor obtido

Tratamento

1.ª medida: Tratamento sem fármacos

Está provado que mudar alguns hábitos de vida é muitas vezes suficiente para baixar os níveis da pressão arterial. Isso passa por:

  • Restringir o sal;
  • Comer frutas, legumes e saladas
  • Praticar mais exercício físico;
  • Evitar álcool;
  • Reduzir o stress;
  • Perder peso (em caso de excesso).

2.ª medida: Tratamento com fármacos

Quando o tratamento sem fármacos não é suficiente, deve então recorrer-se aos fármacos. Estes devem ser prescritos pelo médico, segundo as características de cada paciente.

Sintomas da Hipertensão Arterial (HTA)

Mantenha-se atento aos sinais:

  • Tonturas;
  • Hemorragias nasais;
  • Dores de cabeça;

Consequências da Hipertensão Arterial (HTA)

1. Hipertrofia do coração (aumento do volume)

Diminuição do fluxo sanguíneo ao coração

Angina de peito e Insuficiência coronária

O coração tem difculdade em bombear sangue a todos os tecidos do organismo

O coração torna-se mais frágil, surgem arritmias e insuficiência cardíaca

2. Deterioração das paredes das artérias 


Aumenta o risco de aterosclerose e trombose (formação de coágulos)

Nos casos mais graves, podem dar-se aneurismas e hemorragias cerebrais, devido ao enfraquecimento das paredes das artérias.

Segundo a OMS, o consumo de tabaco, na Europa, é responsável por um milhão e 200 mil mortes anuais, número que tende a ascender aos dois milhões. Em Portugal, o consumo de tabaco atinge cerca de 20 a 26% da população, com predomínio de três homens e meio para cada mulher.

O tabagismo causa um grande prejuízo à saúde pública, já que é responsável pela diminuição da qualidade e duração de vida. Tem ainda a agravante de ser um factor de risco não apenas para o fumador, mas para todos aqueles que se encontram frequentemente expostos ao fumo passivo.

Consequências do tabagismo

Os fumadores têm, em média, menos dez anos de vida do que os não fumadores, pois as substâncias do fumo do tabaco afectam alguns órgãos importantes, ao mesmo tempo que tornam o organismo mais frágil em relação a uma série de doenças.

O tabaco é responsável por:

  • 25 a 30% da totalidade dos cancros — incluindo cancro do aparelho respiratório superior (lábio, língua, boca, faringe e laringe);
  • 80% dos casos de doença pulmonar crónica obstrutiva;
  • 75 a 80% dos casos de bronquite crónica;
  • 90% dos casos de cancro do pulmão;
  • 20% da mortalidade por doença coronária.

 

As doenças cardiovasculares são 2 a 4 vezes mais frequentes nos fumadores.

Deixar de fumar é, pois a medida preventiva mais eficaz para diminuir os riscos de enfarte do miocárdio, angina de peito, doença arterial periférica e acidente vascular cerebral.

Parar de fumar em 10 passos

  1. Marque um dia concreto para deixar de fumar (no prazo máximo de 15 dias).
  2. Até chegar o dia fixado, faça alguma preparação: enumere as razões que o levam a deixar de fumar e treine pequenos períodos de abstinência.
  3. Aprenda a conhecer-se enquanto fumador: identifique os momentos e o número de cigarros que fuma e procure avaliar quais são os cigarros que fuma apenas por “tédio”.
  4. Comunique a decisão às pessoas mais próximas para se sentir mais apoiado.
  5. Durante alguns dias (ou mesmo semanas), pode sentir-se ansioso, inquieto e irritado. Pode também sentir dificuldades em dormir e concentrar-se. Lembre-se que são sintomas passageiros e que já muitas pessoas os ultrapassaram. Você também vai conseguir.
  6. Tenha sempre presentes as razões que o levaram a deixar de fumar.
  7. Faça uma alimentação saudável, para evitar o aumento de peso.
  8. Evite locais com fumadores e afaste objectos que lhe lembrem o tabaco – ex. cinzeiros e isqueiros.
  9. Pratique actividade física, pois ajuda a controlar a ansiedade e permite-lhe estar em boa forma.
  10. Não desista: se tiver uma recaída, fixe uma nova data e recomece a tentar.

As substâncias tóxicas de um cigarro

Um cigarro contém cerca de 4.000 substâncias com efeitos tóxicos e irritantes, 70 das quais mencionadas como cancerígenos.

Alguns exemplos:

  • Nicotina, responsável pela redução da irrigação sanguínea nos tecidos e no sistema nervoso central;
  • Substâncias radioactivas (como Polónio 210 e Carbono 14);
  • Metais pesados (como o chumbo e o cádmio) que se concentram no fígado, rins e pulmões;
  • Monóxido de carbono que assume o lugar do oxigénio conduzindo à intoxicação do organismo;
  • Alcatrão (altamente cancerígeno).

O que ganha se parar de fumar

Após 20 minutos

  • A pressão arterial e o ritmo da pulsação voltam ao normal.

Após 8 horas

  • Os níveis de nicotina e monóxido de carbono no sangue diminuem em 50% e o oxigénio sobe para valores normais.

Após 48 horas

  • A tensão arterial é estabilizada e o paladar melhora.

Após 72 horas

  • Os brônquios descontraem-se, a respiração solta-se e a pele torna-se mais luminosa.

Após 2-12 semanas

  • A circulação melhora significativamente e caminhar torna-se menos cansativo

Após 6-9 meses

  • Sente um aumento gradual do bem-estar geral, acompanhado de mais vitalidade.

Após 5 anos

  • O risco de cancro da boca e do esófago reduz-se para metade.

Após 10 anos

  • Corre 50 % menos risco de ter um cancro do pulmão do que um fumador.

Após 15 anos

  • O risco de doença cardiovascular é semelhante ao de uma pessoa não fumadora, do seu sexo e idade.

Stress significa “tensão” e dele fazem parte todas as perturbações físicas e psicológicas que prejudicam ou entravam a nossa tranquilidade.

 

O stress é parte integrante da vida e não representa algo negativo em si mesmo: a ansiedade que provoca pode até ser saudável, já que impele muitas situações a avançarem e a resolverem-se. Desde, obviamente, que não exceda certos limites. A dificuldade reside aí mesmo. É que, ao contrário da diabetes, da tensão arterial ou do colesterol, o stress é difícil de medir e avaliar e, como tal, é mais complicado estabelecer relações entre o seu grau de existência e o aparecimento de doenças cardiovasculares.

No entanto sabe-se que, apesar de não ser a causa principal de problemas cardíacos, o stress pode contribuir para os despoletar ou agravar, uma vez que, entre outras consequências, faz subir a pressão arterial, dificulta a cicatrização, torna-nos mais vulneráveis a ataques patogénicos exteriores.

É, pois fundamental que aprenda a relaxar-se e a levar uma vida, dentro do possível, tranquila.

Previna e elimine o stress do seu dia-a-dia

1. Identifique a origem do seu stress

O primeiro passo para controlar o stress é identificar as situações ou pessoas que o desencadeiam. Basta estar atento aos sinais exteriores e relacioná-los com o que está a acontecer no momento em que se manifestam.

 

2. Partilhe com as pessoas próximas aquilo que sente

Aprenda a não guardar tudo para si. As tensões e emoções demasiado controladas provocam danos físicos e mal-estar psicológico. Está provado que “desabafar” e exteriorizar o que se sente, contribui para uma melhor saúde.

 

3. Aprenda a dizer não

Sempre que possível, não vá “contra a sua natureza”. Dentro do possível, não se sobrecarregue com obrigações ou responsabilidades excessivas: se o confrontam com um pedido exagerado (em termos de tempo ou exigência), recuse-se a cumpri-lo. Lembre-se que ninguém o respeitará, se não souber respeitar-se.

 

4. Cuide de si: alimente-se de forma saudável e pratique exercício

Uma dieta equilibrada, rica em fruta, verduras, fibra e vitaminas ajuda o corpo a proteger-se. Evite excesso de gorduras, açúcar e também café, álcool e tabaco.

 

A actividade física, quando praticada com regularidade, aumenta a sensação de bem-estar (devido à produção de endorfinas). Consulte o seu médico, para averiguar qual a actividade mais apropriada para si: ioga, jogging, marcha, relaxação muscular, etc.

 

5. Opte por uma postura optimista

Nem sempre é fácil, mas procure contrariar as tendências negativas: tenha pensamento positivo perante as situações, seja mais confiante e flexível. Tudo isto contribui para aumentar as suas resistências.

 

6. Aprenda a gerir o seu tempo

Procure intercalar trabalho, família, lazer e descanso. Procure ser o condutor do seu tempo e não o contrário. Estabeleça prioridades e objectivos.

 

7. Aprenda a relaxar-se: pratique todos os dias

Uma vez que é impossível prever ou evitar algumas das situações que nos causam ansiedade, o melhor é escolher uma boa estratégia para as enfrentar. Aprenda a relaxar progressivamente os músculos e a mente: ao fazê-lo, a frequência cardíaca e a pressão arterial diminuem imediatamente.

As três fases do stress

1.ª Fase — O cérebro dá o alarme

As regiões situadas na parte inferior do cérebro enviam os primeiros sinais de alarme para todo o corpo. O hipotálamo e a hipófise libertam uma série de substâncias químicas (como adrenalina, cortisol ou aldosterona) que fazem reagir o nosso organismo ao “perigo” que se aproxima.

 

2.ª Fase — O corpo resiste

Após a fase de alarme, o corpo adaptou-se às circunstâncias e recuperou o seu estado normal. Dependendo da resistência de cada pessoa, esta fase pode ter uma duração mais ou menos longa, até que o corpo alcance a fase seguinte.

 

3.ª Fase — Fase extenuante

Quando o stress atinge este patamar, é sinal de que o seu grau é bastante severo. O risco de adoecermos, aumenta, assim como a propensão para acidentes cardiovasculares.

Em Portugal, quase metade da população apresenta excesso de peso e perto de um milhão de adultos sofre de obesidade.

Estes números preocupantes estão, entre outras causas, ligados a hábitos de vida mais sedentários e à transformação dos hábitos alimentares, ocorrida ao longo das últimas décadas, que tem favorecido o consumo de cereais refinados, açúcares e gorduras saturadas, em detrimento da tradicional alimentação mediterrânica, rica em cereais integrais, peixe, vegetais, fruta e azeite.

Considerada, entretanto, pela Organização Mundial da Saúde como uma epidemia, a obesidade afecta a longevidade e a qualidade de vida. Por favorecerem doenças como a diabetes mellitus tipo II, a hipertensão arterial ou a dislipidemia, o excesso de peso e a obesidade levam a um importante aumento do risco cardiovascular. Estima-se, por exemplo, que a hipertensão seja 2,5 vezes mais frequente nos indivíduos obesos que em pessoas com peso normal.

A obesidade ocorre quando o número de calorias ingerido é superior ao gasto: quando tal sucede, as calorias são armazenadas no organismo sob a forma de massa gorda, podendo vir a afectar toda a saúde.

Medidas para prevenir e combater a obesidade

A regra essencial é manter o gasto calórico do corpo igual ou superior à quantidade de calorias ingeridas.

1. Siga as proporções recomendadas pela Roda dos Alimentos 

Pratique uma dieta equilibrada e variada, rica em legumes, cereais integrais, fruta e peixe. Reduza os alimentos com açúcar e as gorduras saturadas, presentes sobretudo nas gorduras processadas industrialmente (hidrogenadas), carnes vermelhas, manteiga, e lacticínios gordos.

2. Aprenda a conhecer os alimentos e os nutrimentos

Quando ingere um alimento, procure saber que tipo de nutrientes está a fornecer ao seu organismo. Não precisa de transformar-se num “conta-calorias”, mas é importante ter a noção de que certos alimentos são mais calóricos do que outros.

Aprenda sobretudo a detectar as calorias escondidas nos alimentos pré-cozinhados ou processados industrialmente(muitas vezes sob a forma de gorduras invisíveis).

3. Coma cada 3 a 4 horas

Comendo várias vezes ao dia não tem demasiada fome quando chega à refeição seguinte. Coma porções suficientes para se sentir saciado. Use o seguinte truque: comece as refeições principais com uma sopa de legumes, sem batata. Para além de conter água, muitas vitaminas e sais minerais, ajuda a saciar a sensação de fome. Isto evita a ansiedade que certas dietas de emagrecimento podem causar.

4. Mantenha uma actividade física regular

Escolha uma actividade que lhe dê

prazer e inclua-a na sua rotina, de preferência diária. A regularidade é importante. Sempre que possível, ande a pé nas suas deslocações e privilegie o contacto com a natureza com pequenos passeios ou caminhadas ao ar livre.

5. Emagrecer e manter um peso saudável 

Muitas pessoas conseguem perder peso em tempo recorde. No entanto, o mais comum é que estas “dietas relâmpago” resultem, pouco tempo depois, no inverso: a recuperação do peso, acompanhada, frequentemente, de um aumento superior ao peso original.

Se tem excesso de peso, procure ser acompanhado por um médico ou nutricionista e estabeleça metas razoáveis para a sua dieta .Tão importante como emagrecer é manter um peso saudável ao longo do tempo.

Obesidade e IMC

O índice de massa corporal (IMC) permite classificar o grau de obesidade de uma pessoa. Calcula-se dividindo o peso (em Kg) pela altura elevada ao quadrado (em metros).

Segundo a OMS, o excesso de peso corresponde a um IMC entre 25 e 30 e a obesidade surge quando o IMC é igual ou superior a 30.

IMC = Peso (Kg)
Altura 2 (m)

ClassificaçãoIMC (Kg/m2)
Baixo peso< 18.5
Variação normal18.5 – 24.9
Pré-obesidade25.0 – 29.9
Obesidade Classe I30.0 – 34.9
Obesidade Classe II35.0 – 39.9
Obesidade Classe III≥ 40.0

 

 Obesidade infantil

As estatísticas mostram que, a nível nacio­nal, 31,5% das crianças entre os 9 e os 16 anos são obesas ou sofrem de excesso de peso. A alimentação incorrecta e a escassa prática de actividade física são a base desta situação, favorecendo na população infantil uma predisposição para um conjunto de doenças, como a diabetes e as alterações do foro cardiovascular, em idade adulta.

Se não se contrariar esta tendência, a esperança média de vida destas crianças vai ser mais curta do que aquela que a geração dos pais tem neste momento.

 

Tipos de Obesidade

Do ponto de vista da distribuição da gordura, a obesidade pode ser:

  • Ginóide (em forma de pêra): caracteriza-se por um aumento da gordura da cintura para baixo. É a forma mais comum nas mulheres, tem menos risco cardiovascular mas está associada, muitas vezes, ao aparecimento de varizes e doenças das articulações.
  • Andróide (em forma de maçã): a gordura localiza-se na zona da cintura e zona superior do tronco. É mais frequente entre os homens e tem uma estreita relação com o aparecimento de diabetes, hipertensão, aterosclerose e o aumento de risco cardiovascular.

O que é a diabetes?

A Diabetes é uma doença em que existe excesso de um açúcar – a glucose – no sangue.

A glucose é uma molécula que provém da transformação dos hidratos de carbono pelo nosso organismo e que é indispensável ao metabolismo das células do nosso corpo como fonte de energia.
A insulina é uma hormona produzida pelo pâncreas, responsável por ajudar a glucose (a forma mais primária da energia dos alimentos) a passar do sangue para o interior das células
A diabetes ocorre quando o pâncreas não é capaz de produzir esta hormona em quantidade suficiente, e/ou quando a insulina não actua de modo eficaz.

Quando a insulina não actua, o organismo entra em hiperglicemia, ou seja, a glucose acumula-se no sangue, deteriorando progressivamente os vasos sanguíneos. Por esta razão, as doenças cardiovasculares como a angina de peito, o enfarte agudo do miocárdio e a morte cardíaca súbita são mais frequentes em doentes diabéticos (sobretudo na diabetes tipo II), do que na população em geral. É, por isso, essencial controlar de perto outros factores de risco — como tabaco, hipertensão ou colesterol— de forma a prevenir o “efeito multiplicativo” dos diversos factores de risco sobre as artérias das pessoas com diabetes.

Existem dois tipos de Diabetes:

 Diabetes Tipo 1:

  • É a menos vulgar e surge, geralmente, na infância e na adolescência.
  • As células do pâncreas deixam de produzir insulina.

Tratamento:

  • Implica o tratamento com insulina, durante toda a vida.
  •  

Diabetes Tipo 2:

  • É a forma de diabetes mais comum (9 em cada 10 diabéticos têm este tipo de doença). Associa-se ao excesso de peso e obesidade.
  • Nesta forma de diabetes, o pâncreas é capaz de produzir insulina. No entanto, hábitos alimentares e estilos de vida pouco saudáveis tornam o organismo resistente ao desempenho da insulina.
  • A Diabetes tipo 2 tem aumentado de forma galopante em todo o mundo. Em Portugal existem cerca de 500 mil casos, estimando-se a existência de aumento anual na ordem dos 3%.
  • É mais comum em pessoas com mais de 40 anos, mas devido à obesidade, é cada vez mais frequente entre os jovens.

Tratamento:

  • A maioria dos casos trata-se com uma dieta adequada e exercício e alguns tipos de comprimidos; mais tarde pode vir a ser necessária a administração de insulina. O objectivo do tratamento é o controle da glicemia (quantidade de açúcar no sangue), do colesterol e da tensão arterial.

O diagnóstico da diabetes

A diabetes é detectada em testes da glicemia (níveis de glicose no sangue) e confirma-se quando:

  • Glicemia ≥ 126 mg/dl: em duas ou mais análises em jejum
  • Glicemia ≥ 200 mg/dl: numa análise em qualquer momento do dia, mas acompanhada de sintomas de hiperglicemia

Glicemia ≥ 110 mg/dl e ≤ 126 mg/dl: trata-se de uma glicemia em jejum alterada mas que ainda não se classifica de diabetes.

População de Risco

  • Pessoas com antecedentes familiares da doença
  • Pessoas com excesso de peso ou obesidade
  • Pessoas sedentárias
  • Mulheres que tiveram filhos com um peso à nascença igual ou superior a 4kg

Sintomas

  • Vontade frequente de urinar
  • Sede constante
  • Fome constante
  • Secura da boca
  • Comichão no corpo
  • Cansaço
  • Visão turva

O que é?

Dislipidemia é um termo usado para designar todas as anomalias quantitativas ou qualitativas dos lípidos (gorduras) no sangue.

As dislipidemias podem ser de vários tipos:

  • podem -se manifestar por um aumento dos triglicéridos (TG’s);
  • por um aumento do colesterol ;
  • por uma combinação dos dois factores anteriores (a dislipidemia mista);
  • e ainda por uma redução dos níveis de HDL (o chamado “bom” colesterol).

A dislipidemia é um dos mais importantes factores de risco da aterosclerose, a principal causa de morte dos países desenvolvidos, incluindo Portugal. Qualquer tipo de dislipidemia representa, pois, um importante factor de risco cardiovascular, uma vez que a gordura acumulada nas paredes das artérias pode levar à obstrução parcial ou total do fluxo sanguíneo que chega ao coração e ao cérebro.

 

Tratamento

tratamento das dislipidemias passa por uma mudança de estilo de vida, ao nível da alimentação e do exercício. 

São estas as principais recomendações:

  • Reduza a ingestão de alimentos de origem animal (carnes vermelhas, manteiga, queijos gordos).
  • Evite produtos de charcutaria e alimentos pré-cozinhados.
  • Dê preferência a produtos frescos.
  • Prefira a ingestão de proteínas animais ligadas ao peixe, carne de aves sem pele e carnes magras.
  • Dê preferência ao azeite e outras gorduras polinsaturadas.
  • Ingira mais alimentos ricos em ómega 3 (ex. sardinhas, salmão, óleo de soja).
  • Ingira mais cereais integrais, vegetais, fruta e fibras solúveis (que facilitam a eliminação do colesterol).
  • Cozinhe ao vapor ou grelhe os alimentos. Evite os fritos.
  • Prefira molhos à base de iogurte. Evite natas e maioneses.
  • Reserve o consumo de chocolate para dias de festa.
  • Limite o consumo de gemas de ovo
  • Pratique uma actividade física regular
  • Abandone hábitos tabágicos (caso existam).

Dislipidemia – definições

Colesterol

  • Substância natural, produzida em grande parte pelo fígado e presente em todas as células do corpo. Em quantidades normais é fundamental ao metabolismo: participa nos sais biliares (importantes para a digestão das gorduras), na constituição das hormonas sexuais e é essencial para a constituição das membranas das células. No entanto, quando em excesso, conduz a problemas como a aterosclerose.

Colesterol LDL

  • LDL significa em inglês, lipoproteína de baixa densidade. Esta sigla representa aquele que é também conhecido por mau colesterol, pois oxida e deposita-se nas paredes das artérias, originando o seu endurecimento e obstrução.

Colesterol HDL

  • HDL significa em inglês, lipoproteína de alta densidade. Esta sigla representa o “bom” colesterol, responsável pela remoção do “mau” colesterol do sangue e das paredes das artérias.

Triglicéridos

  • São componentes de grande parte das gorduras alimentares (animais e vegetais). Quando em excesso no sangue também estão associados a um maior risco cardiovascular.

Aterosclerose

  • Nesta doença, a gordura sanguínea acumula-se nas paredes das artérias, tornando-se sólida e formando placas que impedem a passagem do sangue e a irrigação do coração e do cérebro.

 

Valores recomendados

 Valores recomendados
Colesterol Total‹ 190 mg/dl
Colesterol LDL‹ 115 mg/dl
Colesterol HDL› 40 mg/dl no homem
› 45 mg/dl na mulher
Triglicéridos‹ 150 mg/dl

Causas

  • Factores genéticos
  • Alimentação rica em gorduras e pobre em fibras e vegetais
  • Obesidade
  • Sedentarismo
  • Insulinoresistência (doentes obesos e diabéticos)
  • Hipotiroidismo (problemas endocrinológicos)

O rastreio e o diagnóstico médico são fundamentais para avaliar o risco que se corre de vir a ter uma doença cardiovascular. Quanto mais precoce é o diagnóstico, maiores são as possibilidades de impedir o aparecimento ou o agravamento de doença cardiovascular. Uma particularidade dos fatores de risco é que, pior do que se adicionarem, eles potenciam-se, ou seja, agravam-se mutuamente.